Conto de Ambientação 01


―――Albatroz: Condições internas―――

Albatroz... o odiado no mundo náutico, o que viaja pelas veredas dos mares, um navio tão vetusto que não se sabe por que ainda não afundara — seu motor, seu exterior, integralmente tudo elucidava sua deterioração; todavia, fazia apropriadamente seu trabalho ao navegar. Originalmente, não pertence a nenhuma empresa ou organização de transporte, nem há um dono preciso a quem deva retornar; em outras palavras, para o amontoado de desvalidos entre os marinheiros, este navio se tornara um lar, logo neste navio não havia cadeia de comando.
Atualmente, o planejamento de navegação ocorre nas conferências — ou, melhor dizendo, algo criado no calor do momento — entre as 1º oficiais Shisamu & Kisara, o contramestre velho Ron e o engenheiro-chefe Rock Fall I, e os marinheiros inferiores, por sua vez, são relocados e reagem conforme a situação. Além disso, há um alguém quem se possa chamar de capitã: Kuro é encarregada disso; contudo, não lhe é permitida a palavra ou participação nos planejamentos de locomoção — é somente em tempos tempestuosos que assume a condução do navio.
Em verdade, os líderes do Albatroz são as 1º oficiais, o contramestre e o engenheiro-chefe, representando os três magistérios do navio, mas acima deles ainda há um posto maior, ocupado por um gato preto, Shigure Souemon; finalmente, ir-se-á perceber a loucura que há neste navio. Quando esses quatro líderes não entram em conciliação sobre algum assunto pendente, o gato Souemon é quem tem o voto decisivo.
Se tiver de ser realmente necessário classificar o Albatroz, seria próximo a um navio cargueiro. Nesses navios, é comum ter três divisões em relação às atividades administrativas: convés, motor e escritório; mas no caso do Albatroz essas divisões são ambíguas, logo há no máximo amenas divisões entre responsáveis pelo manejo do bardo, gerenciamento de carga, manutenção e gerenciamento do motor; e também pela comida e outras coisas. Os marinheiros para tais divisões de trabalho são selecionados pelo contramestre quando lhe é demandado pelas 1º oficiais ou pelo engenheiro-chefe, agindo de forma correspondente às conjunturas.
Se refletirmos, vemos que os marinheiros também são equivalentemente excêntricos. São jovens de mesmo perfil, físico e roupas; por causa dessa aparência similar, sabe-se lá quantos estão a bordo, pois é difícil obter um número preciso. Certa manhã, o contramestre, por capricho, ordenou a todos os marinheiros do navio para se reunirem e fez uma chamada; no mesmo dia à tarde, o contramestre os reuniu para contar novamente, e houve uma diferença de mais de dez membros; parece que temos que confiar no boato de que os marinheiros mudam seus números caso o navio se veja em tempos abarbados ou não. De acordo com o contramestre, essa mudança é enorme: "Nas horas livres há cerca de vinte marinheiros, mas nas horas atarefadas ou durante brigas há cerca de cem". A força física e capacidade de cada marinheiro são inferiores a de um homem normal, afinal ainda são jovens; contudo, orgulham-se de seu incomparável trabalho em equipe — comparando e classificando o empenho no trabalho deles com marinheiros de outros navios, eles conquistam a excelência. Em verdade, não haveria como o Albatroz navegar sem eles.
Ademais, entre eles há muitos que se destacam com notável habilidade em algumas áreas, desde as menos chamativas, como ser bom em memorização e caligrafia, até outras variadas que são de extremo valor durante navegações: possuir conhecimento de medicina, expertise em reparos mecânicos, julgamento sobre a comestibilidade de peixes e seu modo de preparo. Há o que, em um relance, acerta as três medidas das senhoras; o que sabe mais de mil técnicas de cama de gato etc.; de fato, há muitos casos em que é complicado saber como usar sua habilidade. Todavia, podemos dizer que um ponto em comum deles é que, mesmo existindo pouca diferença entre suas personalidades, são basicamente pacatos e humildes; pode até ser interpretado como um ponto positivo, mas eles não possuem assertividade, nem capacidade de comando ou liderança para ocupar posições acima de outras pessoas.
Em outras palavras, marinheiros são marinheiros, nada acima, nada abaixo disso; não haveria como o navio navegar sem eles, porém só com eles a navegação é impossível.
Então, vamos observar um dentre eles, o dia de um certo marinheiro.

―――O dia de um certo marinheiro―――

07:30
Levanto-me. Já que ontem fiquei até tarde carregando carvão no porto de saída, meu corpo ainda dói aqui e ali. Mais tarde vou revezar massagem com os companheiros. Falando nisso, ontem ao carregar as cargas, o Sakuya-san enfiou sua cara nos cambaleantes e pesados glúteos da Kisara, e foi jogado na baía; será que ele conseguiu se levantar?
Ontem à noite, foi bom eu ter limpado meu corpo com água fresca antes de dormir. É graças a isso que hoje basta lavar meu rosto com uma toalha molhada, tirar minha olheira, comer apressadamente meu café da manhã e partir para o convés superior.
......Hum, só estão escondidos, ainda temos olhos, viu?

08:05
A partir de agora vou junto a um companheiro cumprir o turno. Me atrasei um pouco, mas o contramestre parecia estar de bom humor nessa manhã e não me repreendeu muito. Na sala de refeições, tinha outro companheiro que parecia cansado e com a voz rouca; provavelmente ele deve ter acabado lendo para o contramestre durante toda a noite. Quando penso que está chegando minha vez, desde já fico melancólico...
Hoje está nublado, e o mar, alto; balança muito em cima da torre de vigia. Mas no convés, agora há pouco, as 1º oficiais só conversaram rapidinho com a capitã e já foram embora, então não deve ter possibilidade de tempestade. Bem, devo suportar ficar aqui até o almoço. Também vou consultar com o companheiro com quem vim sobre o cultivo a bordo que estão fazendo dentro das barracas para ver o que cultivar. Esse mesmo companheiro já está dizendo faz um tempo que tomate é bom, mas eu acho mais seguro começar com feijão...
Após duas horas desde que comecei o turno, o Sakuya-san subiu para o convés superior e veio vomitando pelas bordas do navio. Ele já deve ter se acostumado o suficiente com o navio para não sentir enjoo algum, deve ter tomado alguma bebida ruim na noite passada. Realmente, que rapaz sem jeito.
Quase após três horas, às três horas avistei a silhueta de um navio. Parecia ser um navio de guerra de algum lugar, mas já que ele nos ignorou, sinto um alívio. Não faz tanto tempo que foram três em série — o dos piratas, o dos pescadores furiosos e o barco patrulheiro —, então não quero ver algo parecido por um tempo.

12:10
Finalmente termino meu turno, a partir de agora é o almoço. Não é como se tivesse feito esforço físico, mas estou morrendo de fome. Porém, não sei por quê, mas nesse navio o almoço é a refeição com mais variedades e quantidade, dá para comer muito. Mesmo dizendo isso, nós não comemos tanto quanto marinheiros de outros navios. O cardápio de hoje é frango frito, chirashi sushi, sunomono, chawan mushi, aburaage, misoshiru, shiojake frito com repolho cru. Parece que hoje é a vez de um companheiro que é bom em comida japonesa. Fico feliz por comer vegetais crus, mas é triste só poder comê-los imediatamente após zarpar.
O Sakuya-san, com um perfil um pouco pálido, toma somente sopa...... até que, então, ele faz momice e bota para fora um grande botão. Feito de concha. Normalmente juntar esses pequenos acessórios é mania da capitã, por que será que estava dentro da sopa? Por que justamente no prato dele? É realmente alguém sem sorte.
Sobre essa capitã, quando o chawan mushi fica aquecido e pronto, costuma colocá-lo de maneira fugaz em seu bolso. Normalmente ela faz isso quando não consegue comer tudo e leva as sobras para seu quarto, mas acho melhor ela parar de fazer isso. Tenho a impressão de que mais tarde isso pode causar algum acidente...
Nós, como de costume, comemos somente uma porção do chirashi sushi, mas a Shisamu-san e a Kisara-san comeram cinco; a Rui-san repetiu três vezes. Até mesmo o contramestre só comeu três porções, para onde será que vão as carnes que essas mulheres comem? Enquanto pensava isso e as observava, alguém me notou; a Rui-san me direcionou seu olhar e sorriu, me convidando: "O que acha de comermos juntos?". Mas fiquei nervoso e fugi da sala de refeições. Isso porque os companheiros que foram pegos por ela ficaram cerca de três dias deitados na cama exaustos e dizendo palermices. Ela é bonita, mas assustadora, assim como as oficiais.

14:30
A partir de agora estou a checar a carga acumulada do depósito no interior do navio. Não é muito de meu costume fazer esse tipo de trabalho delicado, mas desta vez há um tapete da Turquia que parece ter um alto valor e o contramestre está um pouco nervoso. Mas, bem, isso provavelmente deve ser falsificado. É desagradável ter de contar e anotar um por um, mas não é um trabalho muito cansativo. Será que o contramestre está oferecendo um serviço leve para os que estavam carregando carvão ontem?
Vagando assim pelo depósito, encontro o Sakuya-san fazendo algo às escondidas. Pensei que ele queria furtar algo da carga, mas ele... estava vendo alguma revista pervertida e respirando ofegantemente... ele a deve ter obtido durante o carregamento das cargas; não vou dizer para não fazer isso, mas ao menos veja em seu quarto... Será que não conseguiu aguentar até lá? Tento ignorar e passar reto, mas no lado do próprio Sakuya-san apareceu uma pessoa curiosa, que espiava estranhando a pervertida revista. Aquela é... a clandestina! Já fazia tempo que não a tinha visto, mas ela realmente está a bordo! Quando finalmente o Sakuya-san a percebe, grita em pânico. Todos param o serviço, e começa um grande tumulto para pegar a clandestina.
Rapidamente, ela foi capturada, e desta vez a enfiamos num barril repleto de vegetais podres, mas nessa hora ela gritou: "Buáá, Naomasa, por que você foi fisgado pela revista cheia de mulheres nuas, seu..."; o contramestre confiscou a revista erótica e a enviou ao fogo da cozinha. O Sakuya-san, abalado, ficou à frente das cinzas de sua revista cabisbaixo e assim permaneceu sem se mover por um tempo.

20:00
Toda a tarde foi desperdiçada graças à clandestina, mas nada ocorreu à noite, reunimo-nos todos numa grande sala enquanto conversamos e comemos; eu jogava boliche no corredor com companheiros que não estavam em serviço, mas antes mesmo que percebesse já era minha hora de dormir. É um pouco cedo, mas amanhã tenho que acordar às 04:00 para o turno, então tenho que dormir. Porém, sinto vontade de algo em minha boca. Comi, sim, devidamente meu jantar, mas não é isso, quero algo doce. Por isso, me dirijo aos chips de maçã que escondi. Descobri outro dia que por algum motivo havia um fundo duplo na caixa de ferramentas, embaixo da escadaria do corredor interior do navio. Escondi aí. Há uma sacola cheia, vou dividir com quem quiser também...
――― Mas. Eu. Ao pensar assim.
――― Ao ir pegá-las excitadamente.
――― Vejo em baixo da escada o Sakuya-san e o Tomosato, que estavam ali por algum motivo.
――― Ambos se afogando em bebida.

"Sakuya, isso é o que os marinheiros esconderam, não é?
Só porque não tem peixes para acompanhar nosso gin, comer assim?"
"Hã? Você, que tá comendo do mesmo jeito, diz isso? Mas isso aqui, esse gosto agridoce inesperadamente combina com gin."
"Você come direto uvas passas como acompanhamento pra bebida, né? É tipo isso."

――― Dizem coisas assim, enquanto mastigam e engolem, comem e bebem. Enquanto já tinha sumido mais de setenta por cento da comida. Da minha comida. Da comida que pensei em dividir, o agridoce, o crocante, doce de maçã...
......
............
Eu... já... posso... chorar...
né?...


――― Após isso, o marinheiro choramingou muito, e o Sakuya-san recebeu a fúria de seus colegas: ficou dois dias inteiros proibido de comer na cozinha. Para passar esse tempo em tranquilidade, o Tomosato pescou peixes e usou das mercearias que tinha guardado em algum lugar; dentre as mercearias pegou uma lata de biscoitos e deu aos marinheiros como forma de desculpas, assim planejando perfeitamente restabelecer as relações com eles; todavia, o Sakuya-san continuou por tempos a receber atitudes frias dos marinheiros.

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